A postagem de hoje contempla a vida, obra e
estilo de composição do grande compositor brasileiro Ernesto Nazareth – cujo sesquicentenário
comemoramos neste ano de 2013.
Ernesto Júlio de Nazareth (1863-1934), célebre compositor e pianista brasileiro
do final do século XIX/início de século XX
, é especialmente conhecido por sua inestimável contribuição ao Tango
Brasileiro[1]
(um subgênero do choro[2]) . Influenciado pelo Romantismo europeu
(sobretudo por Chopin), pela música afro-brasileira (como exemplo, o lundu[3])
e o ragtime americano, Nazareth compôs
mais de 200 peças para piano solo - dentre as quais 88 Tangos Brasileiros, 41 valsas, 28 polcas e numerosas peças em uma
variedade de outros gêneros (sambas, Schottisches, fox-trots, quadrilhas,
mazurcas de expressão, entre outros).
Nazareth foi reconhecidamente o compositor brasileiro
responsável por traduzir o espírito do Rio antigo –
com seus cafés, eventos sociais e bailes – em linguagem erudita, mediante estilo
notavelmente refinado. Considerada como um híbrido de erudito e popular, sua
música integra os currículos tanto de
piano clássico como de piano popular nas escolas, conservatórios e universidades.
Ernesto Nazareth nasceu no bairro carioca do Porto, Rio de Janeiro, filho de Vasco Lourenço da
Silva Nazareth e de D. Carolina Augusta da Cunha Nazareth. Iniciou seus estudos
de piano com a própria mãe, posteriormente dando-lhes continuidade com Eduardo Rodolpho de Andrade Madeira e Charles
Lucien Lambert (amigo próximo do compositor
Louis Moreau Gottschalk).
Aos quatorze anos, compôs sua primeira peça para
piano – uma polca entitulada “Você Bem Sabe”. À mesma época, iniciou sua
carreira profissional como pianista em
cafés, bailes e salas de espera de cinemas. Começou a escrever tangos em 1870, e
em 1871 compôs seu primeiro sucesso – o
tango “Não Caio Noutra!!!”. O reconhecimento internacional veio com o
tango “Brejeiro” – interpretado
e gravado pela banda da Garde républicaine em Paris, e
posteriormente publicado tanto na França como nos Estados Unidos.
Em 1886, o compositor casou-se com Theodora Amália Leal de Meirelles, com quem teve quatro filhos - Eulina, Diniz, Maria de Lourdes and Ernestinho.
Em 1904, "Brejeiro" foi gravado pelo cantor Mário Pinheiro sob o título "O Sertanejo Enamorado", com letra de Catulo da Paixão
Cearense. No ano seguinte, Nazareth participa de um recital no Instituto Nacional de Música, interpretando a
gavotte “Corbeille de fleurs”.
De 1909 a 1913, Nazareth atuou como pianista na sala de espera do famoso
Cinema Odeon, no Rio de Janeiro – o qual muitas personalidades ilustres
frequentavam só para ouvi-lo tocar. Foi no Odeon que ele conheceu o pianista Arthur Rubinstein e o compositor Darius
Milhaud - que citou muitas de suas composições em suas obras, tais como o
balé Le
Boeuf sur le Toit e a suite Saudades
do Brasil, além de plagiar o famoso “Brejeiro” em sua peça Scaramouche[4].
Em homenagem à famosa sala de cinema, em 1909 Nazareth compôs o tango “Odeon”, dedicando a peça “à distinta Zambelli & Cia."[5],
proprietária do Cinema.
Em 1926 o compositor embarca em turnê no estado de São Paulo – a qual dura onze
meses – tocando no Conservatório Dramático e Musical de Campinas e no Teatro
Municipal de São Paulo. Naquele mesmo ano, durante conferência sobre a obra de
Nazareth na Sociedade de Cultura Artística de São Paulo, o musicólogo e
escritor Mario de Andrade afirmaria:
“(...) muitas das composições deste mestre de dança brasileira são criações
magistrais, em que a força conceptica, a boniteza da invenção melódica, a
qualidade expressiva, estão dignificadas por uma perfeição de forma e
equilíbrio surpreendentes".
Retornando ao Rio de Janeiro in
1927, Nazareth foi um dos primeiros artistas a tocar na Rádio Sociedade (atual Rádio MEC do Rio de Janeiro). No mesmo ano a
valsa “Resignação”, sua última composição, foi publicada.
No final da década de 1920, seu problema auditivo (causado por uma queda
sofrida ainda na infância) se agravou, levando-o à completa surdez em 1933. Esse
fato induziu-o a um estado de instabilidade psíquica, que resultou em sua
internação em uma clínica neuro-psiquiátrica na Praia Vermelha. Mais tarde,
é transferido para a Colônia Juliano
Moreira no bairro de Jacarepaguá.
In fevereiro de 1934 Nazareth foge do manicômio.
Dias depois, seu corpo é encontrado nas águas da Cachoeira dos Ciganos. Foi sepultado no cemitério de São Francisco Xavier.
A peça que se segue - "Batuque (Tango Característico)" - foi publicada em 1913 pela Casa Arthur Napoleão ( Sampaio, Araújo & Cia.)
e dedicada ao grande compositor erudito e pianista brasileiro Henrique Oswald - a quem Nazareth também conheceu no Odeon. Observe a divisão rítmica binária característica do Tango Brasileiro, bem como o típico ritmo sincopado do gênero.
Interpretado pela grande especialista brasileira em Nazareth, Eudóxia de Barros.
Boa escuta!
Referências:
1) Artigos:
Pavan, Alexandre, "Chopin Carioca", in Revista Textos do Brasil , no.12. Itamaraty - Ministério das Relacoes Exteriores, Departamento Cultural, pp. 60–61.
http://daniellathompson.com/Texts/Le_Boeuf/cron.pt.29.htm
2) Websites:
Cliquemusic: Artista: Ernesto Nazareth
http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/ver/ernesto-nazareth
Ernesto Nazareth
http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/ver/ernesto-nazareth
Ernesto Nazareth - 150 anos
http://www.ernestonazareth150anos.com.br/
Ernesto Nazareth. Dicionário Cravo Albim de Música Popular Brasileira
http://www.dicionariompb.com.br/ernesto-nazareth/critica
[1] O
Tango Brasileiro (também conhecido como “maxixe”) originou-se no Rio de Janeiro nos
anos 1860. Tem suas origens em danças
afro-brasileiras e na polca europeia. O gênero é também definido como uma
variante fortemente sincopada da habanera cubana.
[2] O
choro é um estilo musical popular típico do Rio de Janeiro de fins do século
XIX. Caracteriza-se pelo uso frequente de síncopes e do contraponto, pelo ritmo
alegre e acelerado e pela improvisação virtuosística dos músicos das rodas de
choro – denominados “chorões”. Originalmente,
o choro era tocado por um trio de violão, flauta e cavaquinho. Esse tipo de
composição é geralmente escrito em três partes, em forma rondó, com cada seção
em uma tonalidade diferente (geralmente a seuquencia tonal é: tônica – relativa – subdominante)
[3] O
lundu é um estilo musical híbrido, derivado do batuque trazido pelos escravos
bantos de Angola e dos elementos melódicos e harmônicos das danças portuguesas.
[4] Daniella Thompson, "As Crônicas Bovinas, Parte 29. A linha tênue entre o tributo e o roubo". http://daniellathompson.com/Texts/Le_Boeuf/cron.pt.29.htm
[5]
Ernesto Nazareth – 150 anos I obra I Odeon http://www.ernestonazareth150anos.com.br/Works/view/136
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